E hoje, eu inauguro a seção HISTÓRIA no meu blog. Com ninguém mais, ninguém menos, que Laryssa Goulart, uma grande amiga, de futuro promissor. Com um texto lindo sobre História, ela nos da uma lição de vida, e nos faz parar para pensar.
Portanto: DELICIEM-SE!
"Hoje ao terminar a leitura de uma obra espetacular intitulada “Uma vida
em seis tempos” de Leôncio Basbaum, intelectual comunista, uma série de
interrogações invadiu o meu pensamento e gostaria de compartilhá-las com os ilustres
leitores, pois dizem respeito à História, ao cotidiano, à memória, à
experiência, enfim à temporalidade da nossa existência.
O livro de Basbaum é composto por suas memórias, seus mais de 60 anos de vida
são explorados de forma pretensiosa, gerando inúmeras reflexões e
posicionamentos. Proveniente da classe média ascendente, o jovem pernambucano
vai para o Rio de Janeiro, por volta de 1924, fazer faculdade de Medicina,
sonhando ser um grande médico. Mas além da faculdade, encontra também o Partido
Comunista do Brasil (PCB), ainda em formação, e acaba envolvido naquela
organização, a qual direcionará os próximos 30 anos de sua vida. Abandona o
sonho de exercer medicina, apesar de ter se formado, e se torna um ”revolucionário
profissional”, perseguido pela polícia foi preso e exilado do país por diversas
vezes. Sua relação com o partido e o desejo de modificar a sociedade brasileira
se fortalecem com o passar do tempo, abdicando sucessivamente de sua vida
confortável e estável para se entregar aos mandamentos da organização, apesar de
sua convivência conflituosa com as direções partidárias, que o consideravam
apenas “um intelectual pequeno burguês”, e assim em algumas ocasiões foi
afastado do partido e humilhado. Nos anos 50, Basbaum percebe que sua juventude
havia se esgotado e que nada de concreto havia realizado. Sua insatisfação com
a vida era brutal, se sentia inútil por ter sido incapaz de realizar seus
sonhos, pois por mais que houvesse lutado e se entregado por inteiro ao
partido, não havia modificado nada, perdendo o controle de sua vida.
Assim por volta de 1960 Basbaum abandona o partido, mas jamais o desejo
de ser útil ao povo brasileiro. Das frustrações emergem forças para um recomeço,
e por fim Basbaum encontra na família e nos amigos, nas leituras e em seus
livros publicados, a satisfação de sua vida, e, terminada sua trajetória certo
de que fez o possível pela transformação social do país e se não conseguiu
tamanha proeza, ao menos deixou um caminho aberto a novas ideias, novas
organizações e vertentes políticas com tais determinações.
A partir das memórias de Basbaum, muito mais ricas e profícuas do que o
resumo exposto, algumas reflexões surgiram:
Qual o sentido de nossa vida? Existiria um motivo de estarmos neste mundo?
Se sim, qual seria? Modificar algo ou apenas ser mais um entre bilhões de
pessoas?
E os nossos sonhos, desejos, como realizá-los? Existe a felicidade ou
apenas a satisfação pessoal? Somente realizando os sonhos conseguimos alcançá-las?
Como lidar com os rumos que a vida nos leva sem a nossa aprovação? Pois, os
acontecimentos, de alguma forma, têm uma existência autônoma e estão sempre em
movimento e assim a vida nos leva a caminhos jamais imaginados e muitas vezes
indesejados.
Enfim, como conciliar o presente, passado e futuro, como delinear a nossa
história integrada à história de tantas outras vidas e acontecimentos? Como
realizar nossos objetivos com os movimentos involuntários da vida e as
situações inusitadas as quais ela nos leva?
Apesar das subjetividades contidas nestas questões, as memórias de
Basbaum nos revelam algo muito singular, que geralmente passa despercebido no
nosso cotidiano. A nossa existência consiste em adaptação, por mais que façamos
planos e tenhamos sonhos, objetivos, dificilmente os concretizamos da forma como
imaginamos ou queremos. E mais, a História é viva, está em constante movimento,
nós somos os sujeitos da história presente, os protagonistas ativos de nossa
existência. Além disso, o nosso autor
mostra que os sonhos não realizados podem ser superados e novos sonhos podem
surgir, independente de faixa etária ou social, sempre é tempo de recomeçar,
superar. Isto é viver.
Portanto Basbaum não realizou os maiores sonhos de sua vida, ser um
grande médico e agente transformador de sua sociedade, mas sempre fiel a seus
princípios, a suas ideias, a sua verdade, se eternizou através de suas
publicações, pois suas obras são importantes para o estudo da História do Brasil,
do marxismo no país e do PCB. Sendo que particularmente, estas memórias, além
de sua importância histórica, produzem uma espécie de “despertar da consciência”
para um frutífero arsenal de reflexões sobre a nossa própria existência.".
Laryssa Goulart
Lindo texto Laryssa. Não esperava que fosse diferente. E mais uma vez, vc arrasou. Obrigada por deixar meu blog mais interessante!
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